NÃO QUERO SER MÃE!

Por:

Anna Carolina Silva Guedes de Araújo - CRP 15/4579

O ciclo da vida é visto como um padrão fixo e pré-estabelecido: nascer, crescer, casar, reproduzir e morrer (desse jeito mesmo, como se não houvesse outras possibilidades ou inversão na ordem dos fatores). Dentro desse contexto está a maternidade compulsória, ou seja, a obrigatoriedade da mulher de passar pela vivência da maternidade. Por ser algo já estrutural na nossa cultura, é bem comum que as pessoas nem se questionem se realmente querem ter filho(s), e muito menos, o porquê querem ou não.

Assumir o posicionamento da não-maternidade ainda é um grande tabu na nossa sociedade patriarcal e machista. Pois, tem-se a ideia de que “toda mulher nasceu para ser mãe”, e mais ainda, que “toda mulher tem que gostar de ser mãe”. Isso só ocorre por conta da romantização e idealização da maternidade. Segundo Badinter (1998), o amor materno não é inato e sim uma construção ideológica.

A comprovação disso é que nem sempre existiu o conceito de amor inato a natureza feminina, pois, até o final do século XVIII o comum era que as crianças fossem entregues para que as “amas de leite” as cuidassem, e só retornassem para a família aos cinco anos de idade. A importância da relação mãe-bebê e a criação do conceito de “amor materno” foi sendo construída, a partir do século XIX, de acordo com as necessidades socioeconômicas.

Para garantir um padrão de funcionamento da sociedade - que subjuga a mulher, coloca em posições menos valorizadas e poda o direito a escolha própria - a maternidade foi sendo cada vez mais romantizada e o “instinto materno” tido como base para o objetivo de vida da mulher na sociedade, reduzindo-a a capacidade reprodutiva. E isso só serve para gerar sofrimentos, seja para a mulher que não quis a maternidade (é inaceitável ela não desejar ser mãe, terá que se justificar sempre), a mulher que de fato desejou a maternidade (se ela quis, e é a obrigação dela, não pode reclamar de nada), para a mulher que tem dúvidas quanto ao seu desejo (será que ela quer mesmo assumir a função materna ou só passou a vida toda aprendendo que não há outra opção?) ou para a mulher que não pode ser mãe (se é obrigatório ser mãe, e uma mulher só é completa assim, ela se sente diminuída com a infertilidade).

O fato é que, afirmar “eu não quero ser mãe” traz um grande, e paradoxal, julgamento social, dizem que a mulher que nega “o dever da maternidade” é egoísta, fria e má. Porém, se esta mesma mulher engravida, também é julgada como a única “culpada” pela gravidez, e irresponsável. Mulheres estão sempre no limbo, presas na culpabilização estabelecida pelo patriarcado e o machismo.

O desejo de ter filhos não é nem constante, nem universal. Algumas os querem, outras não os querem mais, outras, enfim, nunca o quiseram. Já que existe escolha, existe diversidade de opiniões, e não é mais possível falar de instinto, ou de desejo universal. (BADINTER, 2011, p.17-18).

Com o avanço do movimento feminista e o empoderamento feminino, já podemos trazer o desejo da mulher para o centro do planejamento familiar, afinal, toda mulher tem o direito de decidir se quer ou não ser mãe. Entretanto, ainda precisamos lutar por avanços no que tange as discussões sociais sobre a temática da maternidade, ao acesso a contraceptivos e informações de qualidade a cerca destes, ao direito/legalização ao aborto, a orientação sobre o processo de entrega para a adoção, e, ao apoio psicológico especializado. 

REFERÊNCIAS:

BADINTER, Elisabeth. Um amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.BADINTER, Elisabeth. O conflito: a mulher e a mãe. Editora Record, 2011.

MaterOnline e a Psicologia Perinatal


O Instituto MaterOnline é uma Instituição especializada na oferta de cursos de formação e pós-graduação a distância (EAD) na área da Psicologia Perinatal. Conheça a Pós-graduação em Psicologia da Gravidez, Parto e Pós-parto tocando aqui e também a Formação em Psicologia Perinatal e da Parentalidade tocando aqui.

PARE DE ERRAR NA PRECIFICAÇÃO DO SEU ATENDIMENTO
ESTÁ FALTANDO PSICÓLOGOS QUE ATUE NESSA ÁREA
ERRO QUE OS PSICÓLOGOS COMETEM NA HORA DE FAZER PARCERIAS

Deixe seu comentário aqui