COVID-19 e o risco para a saúde mental materna

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No início da pandemia COVID-19, as informações que tínhamos era que gestantes não pertenciam aos grupos de risco. No entanto, ainda era muito cedo para poder se afirmar qualquer coisa, existiam poucos estudos sobre o assunto devido à novidade da doença. Contudo, milhares de cientistas do mundo inteiro passaram a voltar seus estudos com o foco na COVID-19.

No Brasil a pandemia se alastra por volta de março de 2020, e estudos de outras culturas nem sempre se aplicavam a realidade do Brasil e precisávamos começar estudar os primeiros casos.

Riscos para uma gestação não se devem apenas as condições físicas e orgânicas, mas também à psicológica e se tornava inegável que gestantes estavam sofrendo emocionalmente com todos os efeitos que a pandemia trouxe, como desemprego, mortes de entes queridos, distanciamento social, rituais como chá de bebês entre outros que não puderam realizar, etc.

Pesquisas começam a surgir no Brasil e apontam uma triste realidade, que impactou ainda mais a saúde emocional de gestantes. Agora sabíamos que gestantes faziam parte de grupos de risco sim, justamente porque elas já apresentam baixa resistência. 

A primeira pesquisa que mostra a grande vulnerabilidade de gestar no Brasil em época de Pandemia foi a publicada em julho de 2020, por Takemoto et al. (2020), os autores apresentaram dados sobre a mortalidade materna por COVID-19. E, infelizmente, a pesquisa indicou que o Brasil estava liderando a mortalidade materna por COVID-19.

A pesquisa revelou que havia já acontecido 160 mortes maternas no mundo, relacionado ao período perinatal por COVID-19, mas 124 foram registradas só no Brasil. A maioria das mortes maternas por COVID-19 eram de mulheres no pós-parto e não de gestantes. Vale destacar que quando falamos em mortalidade materna, estamos falando da gestação até 45 dias após o parto.

Pesquisas investigando a saúde mental materna em época de COVID-19 também passaram a acontecer dentro e fora do Brasil. Um estudo realizado no Canadá revelou que de 1987 gestantes, 37% apresentavam sintomas de depressão e 57% ansiedade (LEBEL et al., 2020). Em estudo realizado no Brasil, conduzido por mim os dados indicaram que 36% estavam com sintomas de alta ansiedade, 16% elevado estresse e 29% sintomas de depressão (SCHIAVO; CASTRO, 2020).

Tal dado revela que o período de pandemia aumentou os riscos para saúde mental materna.

Em dezembro de 2020 é publicado o primeiro artigo que revela o primeiro caso de transmissão vertical do vírus. A gestante se contaminou ainda no primeiro trimestre de gestação, e o RNA viral foi detectado na placenta. O vírus cruzou a barreira placentária e foi detectado no líquido amniótico e nas proteínas da membrana fetal. Infelizmente ocorreu a morte fetal (SHENDE et al., 2020).

Com esse estudo, a incerteza do início do ano de 2020 se a COVID-19 poderia ser transmitido de mãe para feto, é comprova ao final do ano de 2020 que sim. Portanto, gestantes fazem parte de um sério grupo de risco e tais revelações podem interferir na saúde mental de mulheres no período perinatal.

Precisamos imediatamente de mais psicólogos que desejem atuar com essa população, cuidar da saúde mental materna é extremamente importante não só para saúde da mulher como também do feto/bebê. E ainda são escassos os psicólogos no Brasil com capacitação adequado para oferecer atendimento para essa população.

Referência:

LEBEL, C. et al. Elevated depression and anxiety symptoms among pregnancy individuals during the COVID-19 pandemic. Journal of Affectiv Disorders., v.227, p.5-13, 2020. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7395614/

SCHIAVO, R.A; CASTRO, J.C.B. Alterações emocionais em gestantes em período de pandemia COVID-19. Agudos: MaterOnline, 2020

https://temp.materonline.com.br/ebook/pandemia/

SHENDE, P. et al. Persistence of SARS-Cov-2 in the first trimester placenta leading to transplacental transmission and fetal demise from an asymptomatic mother. Human Reproduction., 21 de dezembro  2020. https://academic.oup.com/humrep/advance-article/doi/10.1093/humrep/deaa367/6042696.

TAKEMOTO, M.L.S et al. The tragedy of COVID-19 in Brazil: 124 maternal deaths and counting. Internetional Journal Gynecology and Obstetrics, 3 Julho, 2020. https://obgyn.onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1002/ijgo.13300

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