A CAPA DA INVISIBILIDADE MATERNA

Por:

Anna Carolina Silva Guedes de Araújo - CRP 15/4579

É perceptível que a maternidade ocasiona múltiplas mudanças na vida da mulher - biológicas, psicológicas e sociais – que ocorrem de formas diferentes durante e após a gestação. A invisibilidade materna é um fenômeno social, que se manifesta com a chegada da maternidade, quando a mulher passa a ser “apagada” em vários aspectos e contextos (identidade, individualidade, mercado de trabalho, relacionamento amoroso, interações sociais e etc...).

A capa de invisibilidade materna começa a ser costurada ainda na gestação, quando a identidade da mulher é suprimida e ela passa a ser tratada apenas como a “mãezinha”, e tudo que as pessoas veem é uma barriga grande que qualquer um pode tocar, sem se importar com o que a gestante acha disso. Tanto na gestação quanto no puerpério, muitas vezes, é negada a mulher a possibilidade de ter sentimentos distintos e expressar suas emoções. Sendo essa mais uma forma de colocá-la sob a capa da maternidade perfeita, retirando sua vivência de contexto e o seu direito de ser humana. 

Por ter a sua identidade de mulher sobreposta totalmente pela identidade de mãe, ela perde o direito a sua individualidade ao ser julgada caso resolva dividir a sobrecarga de cuidar de uma criança e separar um momento para si, seja por delegar responsabilidades ou por continuar saindo eventualmente para curtir a sua vida.

Isso repercute também na vida amorosa, pois, é difícil para essa mulher exercer a sexualidade de forma livre dentro de seu casamento (o machismo/patriarcado muitas vezes interfere em como ela passa a ser vista pelo companheiro após ser mãe). E também, gera preconceitos caso ela busque novos relacionamentos (como se “mãe solteira” fosse um problema a ser evitado).

Apesar da mulher ter o maior peso da responsabilidade por criar os filhos - que é colocado pela estrutura machista e patriarcal da nossa cultura - há uma invisibilidade perante a opinião da mulher-mãe em relação aos seus filhos. Muitas vezes, a interferência é exercida em formas de palpites e até de ações que podem ser prejudiciais as crianças. Isso só ocorre porque a mulher não é enxergada embaixo da capa da maternidade, esquece-se que ela precisará lidar com as consequências físicas e emocionais ao ter suas decisões desrespeitadas. 

Outra forma de invisibilidade materna é o conteúdo monotemático, que ocorre porque a mulher é enclausurada na temática da maternidade, como se ela não fosse mais capaz de conversar ou se interessar por um outro assunto. Isso impacta em como se dá a relação com o mercado de trabalho, pois, muitas vezes a capacidade da mulher passa a ser subjugada, a mudança referente a alteração da rotina com a maternidade não é levada em conta e a produtividade é avaliada erroneamente, gerando dificuldades de acesso/retorno ao mercado de trabalho. Assim, após a maternidade, a mulher é julgada se quiser ter um emprego e também se não quiser.

Também existe a invisibilidade no polo oposto, onde a maternidade da mulher é invalidada, como no caso de adoção em que o preconceito é o que pauta as interações sociais, e, ela é vista como “menos mãe”. E também os casos de “mães de anjo”, que são decorrentes das mortes prematuras dos filhos (seja na gestação, no parto ou após o parto), e apagam, da realidade dessa mulher, a vivência da maternidade.

A ideia disfuncional que existe na nossa sociedade - que esconde as mulheres embaixo da capa de invisibilidade materna (seja por apagar a mulher ou seja por invalidar a maternidade) - causa sofrimentos, adoecimentos psíquicos, sentimento de inadequação, e solidão nas mulheres-mães. Para conseguir desfazer isso e promover a saúde mental materna, nós, enquanto sociedade, precisamos repensar a forma que enxergamos a maternidade para desromantizar e acolher as diversas realidades e possibilidades de ser mãe e mulher.

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